Attack on Titan e Thomas Hobbes: Teoria do encontro do Titã com Leviatã.
27/09/2017Fala povão! Aqui é o Carlos. No EMD eu tinha lançado uma coluna chamada as Visões Distorcidas de um Bêbado. Resolvi relançar ela no Katoon! Então, dei uma repaginada no primeiro texto (original podem ver aqui) e estou relançado para quem não leu. Ela trás uma nova visão sobre Shingeki no Kyojin, misturando Attack on Titan e Thomas Hobbes.
Como Vai Funcionar Isso?
Como da primeira vez, tudo dependerá do feedback que irei receber de vocês. Já tenho outros posts em mente. Todos eles tem essa pegada de trazer uma nova visão sobre uma obra ou levantar uma questão. Então espero que vocês gostem.
(Na verdade vários dos nossos textos vão ser meio loucos assim. Vocês podem ver o do Lucas sobre Mashups aqui)
A coluna deve sair a cada duas semanas, ainda vou determinar um dia. Se vocês preferirem um dia deixa no comentário. Nesse inicio talvez possa sair a cada semana, mas o foco é manter uma periodicidade quinzenal.
Bem, bora para essa loucura.
Pera, Atack on Titan e Thomas Hobbes. WTF??
Depois desse breve (mas importante) aviso, tentarei explicar a ideia do post. Aqueles mais familiarizados com estudos de ciências políticas e relações internacionais (até mesmo pelo ensino médio, se bobear) já devem ter percebido o tom das próximas frases.
A ideia é unir uma possível visão sobre o Estado (nação), demonstrada na 1 ° temporada de Shingeki no Kyojin, com interpretações de diferentes autores, sendo o principal deles Thomas Hobbes.
“Mas por que unir Attack on Titan e Thomas Hobbes, Mestre dos Magos?” Simples, jovem padawan. A história de Shingeki no Kyojin se passa em um Estado de características muito similares ao que Hobbes defendia, o Estado Absolutista. Por ser empregado do governo britânico, Hobbes fez sua obra baseada nesse modelo, e a partir daí, apresentou teorias sobre o porquê do Estado ter de ser absolutista e como ele se forma.
O que a teoria fala a ponto de se imaginar Attack on Titan e Thomas Hobbes Juntos?
Hobbes apresenta em sua teoria, que antes da criação do Estado, o ser humano vive no Estado de Natureza. Nesta situação, o ser humano vive em um modelo de livre arbítrio total, sem nenhum ser acima que disponha do monopólio do poder da força.
Esse modelo anárquico dispõe de total liberdade para o indivíduo, porém, o imprime em um sistema de ameaça constante, pois como o homem é um ser ruim por natureza, ele irá buscar a forma de satisfazer todos os seus instintos e necessidades sem se preocupar com o bem estar do outro.
Para quebrar esse estado de insegurança, o homem troca parte de sua liberdade total para ter segurança, assim ele (grupo) elege um indivíduo que controlará a situação e a partir deste momento terá o monopólio do poder. A partir de então, o monarca criará instituições que legislarão e controlarão o uso da força pelo Estado político. Sendo esta troca da liberdade por segurança o contrato social.
Os indícios que unem Attack on Titan e Thomas Hobbes.
Dentro do contexto da obra é apresentado à presença de um rei, da nobreza, do clero (que acredita nas divindades das muralhas), camponeses, a polícia (que é a representação da guarda real), dentre outras divisões. Todos são marcas que constituem um Estado Absolutista.
O principal fator que exemplifica o modelo absolutista são as próprias muralhas. Pois elas dividem em castas a população e são uma clara referência ao modelo francês de divisão, que nos dá o Primeiro Estado (clero), o Segundo Estado (nobreza) e o Terceiro Estado (resto da população).
Dentro do terceiro Estado temos diferenciações também, pois a maioria da população se apresenta ali. Isso fica bem claro na cena onde um carrinho com mercadorias de um alto burguês impede a fuga do resto da população.
Outra clara representação, que pode representar a união de Attack on Titan e Thomas Hobbes seriam os titãs. Os titãs podem ser vistos como outros Estados (Na verdade, com o desenrolar da 2° temporada é bem possível isso seja parte do desfecho da obra). Nesse caminho, a manutenção do poder estatal também é necessária por causa da ameaça externa, que é o principal caso dentro da história.
Porém, Hobbes e outros autores apresentam que a partir do momento em que o governante não pode, ou não consegue, dar garantias de segurança à sua população, o contrato social será desfeito. Neste caso, ou um novo líder é escolhido pelo povo, ou o homem voltará ao Estado de Natureza.
É neste ponto que quero chegar.
Você assina o contrato social, retirando parte de sua liberdade em troca de segurança. Porém, no mundo atual de Attack on Titan, não existe esse Estado de segurança, que é o motivo pelo qual o homem assina o contrato social. Logo, podemos pensar que o contrato social pode ser desfeito pela população e possíveis revoltas frente ao Estado podem aparecer na obra.
Nesse ponto que mais vejo a união entre Attack on Titan e Thomas Hobbes. Se o autor for inteligente ele não delimitará a resoluções dos mistérios somente para fora da muralha. Mas sim, dentro delas que poderemos ver os principais desenrolares da trama, com conspirações, dúvidas sobra atuação do Estado e sua criação. Além, é claro, daquela boa e velha treta interna que gera uma revolução.
Por mais que a ação fora da muralha seja o que atrai muita gente. Um bom enredo de tramas internas pode elevar ainda mais a obra em um modelo “game of throneano” rs. Onde o jogo político é tão ou mais importante que os atos e mortes em si.
Indo um Pouco Além.
Farei uma rápida análise sobre as instituições, que foram pouco apresentadas na obra até agora. Para isso, usarei as ideias de outro autor: Nicolau Maquiavel.
Maquiavel trabalhou principalmente as construções das instituições dentro de um Estado, para assim deixá-lo mais forte. Em suas palavras: “Sábio é o governante que ergue instituições fortes – e conquista, assim, a afeição do povo e a glória.”
Para esse alcance da glória ele apresenta um programa de princípios e políticas virtuosas, baseados na coesão interna. Para implementar tais políticas, o governante necessitará de armas boas, que irão lhe dar a força necessária para tais atos.
Percebe-se que o rei em Attack on Titan só leu Maquiavel até a parte das armas boas. Pois ele segue os mandamentos do gênio de Florença e cria um exército leal a seu Estado e governante. Porém, erra na formação da única instituição até agora apresentada: aquela que demanda o uso da força.
Foram apresentadas três instâncias dessa instituição:
- a polícia (guarda real)
- as tropas estacionarias (o que seriam a polícia no nosso mundo)
- e as tropas de exploração.
O erro foi muito bem apresentado (acredito que será bem explorado no decorrer do manga/anime), pois os principais formandos, logo, os principais combatentes desse exército, ganham como prêmio não lutarem e nem chegarem perto do campo de batalha. Eles se tornam parte da polícia. Assim, sua função passa a ser proteger o rei e toda sua cúpula, que fica nos lugares mais longínquos, distantes da batalha. Assim, cabe o pensamento: “Estado de segurança para quem?”
Algo pensável até para situações mais atuais.
CONCLUINDO…
A partir desta explicação podemos perceber que essa união entre Attack on Titan e Thomas Hobbes para explicar o Estado é possível de ser utilizada no universo. Se o autor no futuro der uma explicação nesse sentido, seria espetacular.
Acredito que existam obras com melhores artes (com certeza), enredo, narrativa etc. Porém, tenho um carinho maior por obras que me permitam essa “visão além da obra” de forma mais fácil. Que apresentem temas de diferentes cunho filosófico e analítico, trazendo algo novo (um plus) para seus leitores. (Não sei vocês, mais eu já pensei em duas ou três possibilidades de análises diferentes, além dessa rs.)
Attack on Titan pode ser uma dessas obras. Sei que o foco dela não é esse, mas espero coisas boas para frente.
Espero poder trazer mais deste tipo de texto para vocês. Esse tipo de coisa “fora da curva”, algo mais viajado é algo que curto muito. Logo espero o feedback de vocês para saber se manterei ou não o post. Também espero bons e construtivos comentários eim.
Um grande Abraço e muita cachaça, animes, mangas e outras coisas boas da vida a todos!
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